Após o profeta Samuel envelhecer, constituiu á seus filhos por juízes sobre Israel¹. Depois disto, todos os anciãos de Israel unidos, falaram á ele:
“Eis que já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora um rei sobre nós, para que ele nos julgue, como o têm todas as nações.
Porém esta palavra pareceu mal aos olhos de Samuel, quando disseram: Dá-nos um rei, para que nos julgue. E Samuel orou ao Senhor.
E disse o Senhor a Samuel: Ouve a voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não te têm rejeitado a ti, antes a mim me têm rejeitado, para eu não reinar sobre eles.
Conforme a todas as obras que fizeram desde o dia em que os tirei do Egito até ao dia de hoje, a mim me deixaram, e a outros deuses serviram, assim também fazem a ti.” (1Sm 8.5-8)
Os anciões citaram a idade avançada de Samuel e o desvio de caráter de seus filhos para justificarem pedir um rei. No entanto, a real motivação do referido pedido, era para se tornarem semelhantes ás demais nações, que tinham um rei humano como símbolo de autoridade, poderio para ganhar batalhas e fornecer segurança ao povo que o servia. Portanto, desprezaram Deus como seu Rei, e Samuel como juiz ².
Deus disse á Samuel:
“Agora, pois, ouve à sua voz, porém protesta-lhes solenemente, e declara-lhes qual será o costume do rei que houver de reinar sobre eles.
E falou Samuel todas as palavras do Senhor ao povo,” (1Sm 8.9-10)
O povo foi advertido quanto aos fardos relativos ao tipo de autoridade que desejavam se submeter. Pois, desta maneira, seus filhos se tornariam empregados do rei para servi-lo nas batalhas, no seu sustento e conforto. Inclusive, o povo ofertaria dízimos e do melhor das suas posses ao rei, tornando-se escravo dele. E, em seguida, clamariam por socorro ao Senhor ³.
“Porém o povo não quis ouvir a voz de Samuel; e disseram: Não, mas haverá sobre nós um rei.”
E nós também seremos como todas as outras nações; e o nosso rei nos julgará, e sairá adiante de nós, e fará as nossas guerras.” (1Sm 8.19-20).
Portanto, os judeus violaram sua aliança pactual com Deus , da qual Ele se comprometera em salvar, abençoar e liberta-los. Inclusive, ignoraram as constantes intercessões que Deus realizou, protegendo-os 4 .
Atendendo ao pedido do povo, Deus encaminhou o jovem benjamita Saul, para ir ao encontro de Samuel. Em secreto, Samuel ungiu Saul por capitão sobre a herança de Deus (o povo de Israel) para libertá-la do domínio e opressão dos seus inimigos filisteus 5.
Ao partir de Samuel, Deus mudou o coração de Saul em outro. E, naquele mesmo dia, conforme mencionado por Samuel, o Espírito Santo se apoderou de Saul, que em seguida, começou á profetizar 6.
Samuel convocou o povo para tornar conhecida a escolha do Senhor e disse-lhe:
“… Assim disse o Senhor Deus de Israel: Eu fiz subir a Israel do Egito, e livrei-vos da mão dos egípcios e da mão de todos os reinos que vos oprimiam.
Mas vós tendes rejeitado hoje a vosso Deus, que vos livrou de todos os vossos males e trabalhos, e lhe tendes falado: Põe um rei sobre nós. Agora, pois, ponde-vos perante o Senhor, pelas vossas tribos e segundo os vossos milhares.” ( 1 Sm 10.17-20)
Logo, foi selecionada a tribo de Benjamin, e de família em família até chegar á Saul. Porém, não o acharam 7. “Então tornaram a perguntar ao Senhor se aquele homem ainda viria ali. E disse o Senhor: Eis que se escondeu entre a bagagem.
E correram, e o tomaram dali, e pôs-se no meio do povo; e era mais alto do que todo o povo desde o ombro para cima.
Então disse Samuel a todo o povo: Vedes já a quem o Senhor escolheu? Pois em todo o povo não há nenhum semelhante a ele. Então jubilou todo o povo, e disse: Viva o rei!
E declarou Samuel ao povo o direito do reino, e escreveu-o num livro, e pô-lo perante o Senhor; “ (1Sm 10.22-24)
Quando o Espírito Santo de Deus manifesta Seu poder através do homem, o mesmo é capaz de fazer coisas extraordinárias. A exemplo de Saul, que além de haver profetizado, em um outro momento, apanhou dois bois e cortou-os em pedaços 8. No entanto, na ausência do poder Divino sobre Saul, tornou nítida sua limitação humana.
No entanto, a ânsia por ser semelhante ás demais nações, que não possuíam temor ao Senhor, era tão grande que o povo não percebeu, ou não se importou com esta fragilidade que o seu futuro rei apresentou.
Samuel muito trabalhou em intercessão pelo povo diante de Deus. Porém, na velhice foi menosprezado quanto juiz pelo povo que ajudara. Entretanto, ainda assim, os anciões o reconheciam como autoridade espiritual ungido pelo Senhor Deus. Portanto, pediram-lhe que constituísse um rei para eles.
Neste contexto, Samuel representa cristãos que reconhecidamente são identificados como servos fiéis á Deus no meio do qual congregam. Entretanto, como não apresentam características marcantes que os façam sobressair perante as demais pessoas, segundo as vaidades destas (o porte físico e beleza de Saul, por exemplo), são menosprezados e destituídos de suas funções, mesmo que sejam consagrados por Deus para as mesmas 9.
Entretanto, Deus engrandeceu á Samuel perante o povo quando ele reuniu todo o Israel e declarou:
“Não é hoje a sega do trigo? Clamarei, pois, ao Senhor, e dará trovões e chuva; e sabereis e vereis que é grande a vossa maldade, que tendes feito perante o Senhor, pedindo para vós um rei.
Então invocou Samuel ao Senhor, e o Senhor deu trovões e chuva naquele dia; por isso todo o povo temeu sobremaneira ao Senhor e a Samuel.
E todo o povo disse a Samuel: Roga pelos teus servos ao Senhor teu Deus, para que não venhamos a morrer; porque a todos os nossos pecados temos acrescentado este mal, de pedirmos para nós um rei.
Então disse Samuel ao povo: Não temais; vós tendes cometido todo este mal; porém não vos desvieis de seguir ao Senhor, mas servi ao Senhor com todo o vosso coração.
E não vos desvieis; pois seguiríeis as vaidades, que nada aproveitam, e tampouco vos livrarão, porque vaidades são.
Pois o Senhor, por causa do seu grande nome, não desamparará o seu povo; porque aprouve ao Senhor fazer-vos o seu povo.” (1Sm 12.17-22)
“… o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração.” (1Sm 16.7)
Logo, a vaidade cegou o entendimento dos judeus ao pedir para si um rei humano com o intuito de ser semelhante aos demais povos. Entretanto, apesar de rejeitado, Deus não os desamparam por amor ao próprio nome e não por merecimento deles. Ainda que sejamos infiéis ao Senhor, Ele permanece fiel, pois não pode negar a Si mesmo 10.
Semelhantemente ao povo hebreu, ocupamos o lugar de honra do Senhor em nossas vidas quando buscamos nas pessoas o que Deus nos dá com excelência e quando desejamos nos comportar de forma semelhante ás demais que não O servem. Constituindo, portanto, para si “reis” como : relacionamentos, costumes, comportamentos, pensamentos, hábitos…
Ou seja, trocando o poder de Deus e Sua presença por vaidades…
A Palavra de Deus ensina que “… como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver; “ (1Pe 1.15)
“Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? “ (2 Co 6.14)
O servo do Senhor reflete a luz de Cristo aonde passa, iluminado as trevas das pessoas que não O conhecem ou rejeitam.
Não permitamos que a luz de Cristo em nós seja ofuscada por qualquer vaidade!
“Ora, ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus sábio, seja honra e glória para todo o sempre. Amém.” (1 Tm 1.17)
A paz do Senhor!
Referências:
- 1Sm 8.1-4
- Dt 17.14-15
- 1Sm 8.11-19;
- 1Sm 10.18
- 1 Sm 9.14-17; 10.1
- 1Sm 10.9; 10.5-7
- 1 Sm 10.21
- 1Sm 11.6-7
- 1Sm 9.2
- 2 Tm 2.13