No livro de Salmos, capítulo 137, o salmista relatou o desânimo, em uma experiência recente ou passada, vivido durante o exílio do povo de Judá para a Babilônia :
“Junto aos rios da Babilônia, ali nos assentamos e choramos, quando nos lembramos de Sião. Sobre os salgueiros que há no meio dela, penduramos as nossas harpas.
Pois lá aqueles que nos levaram cativos nos pediam uma canção; e os que nos destruíram, que os alegrássemos, dizendo: Cantai-nos uma das canções de Sião.” (Sl 137.1-3)
A harpa era um dos instrumentos musicais que expressavam alegria e eram utilizados no Templo de Deus para louvor e adoração. Antes jubilosa, agora a harpa está muda e pendurada (indicando que não seria mais tocada). ¹
Na Antiga Aliança, as pessoas somente podiam desfrutar da presença do Altíssimo em Seu Templo. Como os babilônios haviam destruído Jerusalém e o Templo de Deus, o pedido por um cântico era uma forma de ridicularizar os cativos. ²
Demostrando amor ao lar, o salmista continuou…
“Como cantaremos a canção do Senhor em terra estranha?
Se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém, esqueça-se a minha direita da sua destreza. Se me não lembrar de ti, apegue-se-me a língua ao meu paladar; se não preferir Jerusalém à minha maior alegria.” (Sl 137.4-6)
Naquela época, Jerusalém era venerada como a cidade que Deus escolheu para a Sua habitação, simboliza todos os cristões e tipifica o novo céu e a nova terra. Logo, se fosse desleal e repudiasse aquela cidade e ao Senhor, o salmista desejava perder a habilidade de tocar harpa e de cantar. ³
Deus enviou Seu povo cativo á Babilônia devido á desobediência deliberada do mesmo. O Senhor disse: 4
“… Certamente que passados setenta anos em babilônia, vos visitarei, e cumprirei sobre vós a minha boa palavra, tornando a trazer-vos a este lugar.
Porque eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais.
Então me invocareis, e ireis, e orareis a mim, e eu vos ouvirei.
E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração.” (Jr 29.10-13)
Portanto, o cativeiro possui um tempo determinado pelo Senhor para seu término. Durante o sofrimento, a pessoa possui tendência ao quebrantamento de espírito. Consequentemente, busca mais intensamente pela presença de Deus, restaurando seu relacionamento com o Senhor em sinceridade. 5
O apaixonado salmista clama pelo juízo divino sobre seus inimigos:
“Ah! filha de babilônia, que vais ser assolada; feliz aquele que te retribuir o pago que tu nos pagaste a nós.” (Sl 137.8)
A filha da babilônia é a personificação da cidade de Babilônia. Enquanto, os babilônios tipificam os inimigos dos filhos de Deus. E a terra estranha, o cativeiro temporário do servo do Senhor no qual enfrenta tribulação.
As nações que oprimiram os hebreus não ficaram impunes. Pois, o Senhor disse: 6
“Acontecerá, porém, que, quando se cumprirem os setenta anos, visitarei o rei de babilônia, e esta nação, diz o SENHOR, castigando a sua iniqüidade, e a da terra dos caldeus; farei deles ruínas perpétuas.” (Jr 25.12)
“Porque, eis que na cidade que se chama pelo meu nome começo a castigar; e ficareis vós totalmente impunes? Não ficareis impunes, porque eu chamo a espada sobre todos os moradores da terra, diz o Senhor dos Exércitos” (Jr 25.29)
Logo, se aproveitar de uma possível fragilidade de um servo de Deus, ainda que tal situação seja devido á alguma falta que o mesmo cometeu, não torna seu opressor inocente ou justificado diante de Deus.
Segundo Jesus:
“Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem!” (Mt 18.7)
Em meio a tribulação, o salmista lembrou saudosamente de seu amado lar e da presença do Senhor. Demonstrando-nos, que quando em algum momento de nossa vida experimentamos a maravilhosa presença de Deus, em meio á angústia, percebemos mais intensamente o quanto somos carentes dela.
A oferta ao Senhor deste salmista era seu louvor no Templo de Deus. Portanto, á princípio, não havia motivação ou sentido oferece-lo á uma nação que servia á outros deuses. No entanto, isto nos faz refletir que há pessoas que não servem ao Senhor querendo ouvir louvores ofertados á Deus, ainda que o adorador esteja vivenciando situações difíceis. 7
Em resposta á aquele pedido, meditemos no que Jesus disse á Seus seguidores:
“Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa.
Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.” (Mt 5.14-16)
Logo, enquanto servos do Senhor, inevitavelmente a luz de Cristo resplandecerá em nossas vidas, ainda que não percebamos, atraindo a atenção de outras pessoas para a glória de Deus.
O que temos louvado em nossas vidas exalta o nome do Senhor diante das pessoas?
“Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. ” (Rm 12.1)
Ou seja, nossa vida deve ser renovada através do Espírito Santo de Deus; e o nosso culto não deve ser meramente ritualístico, mas de coração, da mente e em obediência ao Senhor.
Quando santificamos Jesus em nosso interior, não ficaremos sem palavras ao defender a nossa fé ás pessoas (incluindo as incrédulas). Devemos responde-las com amor, mansidão e respeito. Então, os que nos oprimem, pela nossa demonstração de amor, terão suas investidas contra nós injustificadas. 8
Através de Jesus, temos acesso á presença de Deus quando e onde desejarmos. Logo, ao invés de nos aposentarmos espiritualmente “pendurando nossas harpas”, devido ás circunstâncias que nos “cercam”, continuemos louvando o santo nome de Deus. 9
A canção pode mudar, mas nunca cessar!
“O Senhor é a minha força e o meu cântico; e se fez a minha salvação.” (Sl 118.14)
A paz do Senhor!
Referências:
- Sl 98; 147.7; 149.1-3; 2Cr 20.27-28; Is 24.8
- 2Cr 36.17-20
- 1 Rs 8; Ap 21
- Jr 25
- Sl 51.17
- Jr 25.11
- 2Cr 36.7; Is 21.9; Dn 3.12; Jr 50.2
- 1Pe 3.15-16
- Jo 4 19.24