Quando pecadores e demais pessoas discriminadas pela sociedade se aproximaram de Jesus para O ouvir, os fariseus e escribas reclamavam entre si: 1
“Este recebe pecadores, e come com eles.” (Lc 15.2)
Em resposta á estes religiosos, Jesus contou a seguinte parábola:
“Um certo homem tinha dois filhos;
E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda.
E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente.
E, havendo ele gastado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a padecer necessidades.
E foi, e chegou-se a um dos cidadãos daquela terra, o qual o mandou para os seus campos, a apascentar porcos.
E desejava encher o seu estômago com as bolotas que os porcos comiam, e ninguém lhe dava nada.” (Lc 15.11-16)
Para o povo judaico, o porco era o pior tipo de animal imundo. Logo, necessitar cuidar e comer do que lhe era servido, era uma situação degradável. Diante disto, recobrou o juízo e disse: 2
“Quantos jornaleiros de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome!
Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti;
Já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus jornaleiros.
E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou.” (Lc 15.11-20)
O filho reconheceu e confessou o próprio erro diante do pai. O pai, sem nenhuma ressentimento, derrama seu amor e disse a seus servos:
“Trazei depressa a melhor roupa; e vesti-lho, e ponde-lhe um anel na mão, e alparcas nos pés;
E trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos, e alegremo-nos;
Porque este meu filho estava morto, e reviveu, tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a alegrar-se.” (Lc 15.22-24)
Quando o filho mais velho soube de como o pai recebeu o mais moço, se recusou a participar da festa e indignado disse ao pai:
“Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos;
Vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou os teus bens com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado.” (Lc 15.29-30)
Toda a lei de Deus está subordinada aos dois mandamentos: 3
“Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.” (Lc 10.27)
A crítica do filho mais velho ao comportamento do pai e a recusa em reconhecer o mais novo como irmão demonstra que o mais velho não agia em amor.
Portanto, ele era a personificação daqueles religiosos que criticavam Jesus por receber pessoas discriminadas pela sociedade. Nesta parábola, Jesus relatou a hipocrisia dos mesmos que, apesar de conhecerem a Palavra, não a exerciam.
Pois, além de não admitir serem imperfeitos, se recusavam a desfrutar da presença do Senhor por não possuir um coração misericordioso. 4
Enquanto o pai representa Deus, o filho mais novo, o pecador arrependido.
O amoroso pai responde ao filho mais velho:
“Filho, tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas;
Mas era justo alegrarmo-nos e folgarmos, porque este teu irmão estava morto, e reviveu; e tinha-se perdido, e achou-se.” (Lc 15.31-32)
Cada um dos presentes do pai tem os seguintes significados:
- Melhor roupa – Reservada para convidado de honra e representa a veste de justiça, ou o perdão, que recebemos ao buscar uma vida de santidade. 5
- Anel – Símbolo de autoridade. Representa a restauração do relacionamento entre pai e filho com o consequente restabelecimento dos benefícios desta aliança. 6
- Alparcas (ou sandálias) – Geralmente não eram utilizadas por escravos. Portanto, mais uma simbolização da plena restauração de seu estado de filho.
- Novilho cevado – Reservado apenas para ocasiões muito especiais.
Portanto, tudo o que este pai ofereceu ao filho arrependido representa a abundância da bênção da salvação.
A vida do filho menor enquanto viveu afastado da casa do pai ilustra a pior degradação que pode acontecer á quem já foi filho do reino, ou seja, em algum momento ter aceitado Jesus como Salvador: sair da presença dEle.
O comportamento alegre e afetuoso do pai ao reencontrar o filho perdido ilustra o quando o Senhor anseia em restaurar o relacionamento com o pecador.
O filho mais moço saiu da casa do pai para viver segundo a própria vontade, porém não abria mão das bençãos do pai. O bondoso pai o entregou o que fora pedido e o deixou ir.
Este filho gastou tudo o que recebera. Talvez por crer, que as bençãos recebidas permaneceriam independentemente das escolhas que seriam feitas. Porém, apenas na casa do Pai é possível desfrutar da plenitude das bençãos do Senhor.
A paz do Senhor!
Referência:
- Lc 15.1
- Lv 11.7; Pv 11.22; Mt 7.6; 2Pe 2.21-22
- Mt 22.40
- Rm 3.23
- Zc 3.1-7
- Et 8.8; Dn 6.17